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Heróis Invisíveis

  • Maria K. R. Silva
  • 16 de set. de 2016
  • 4 min de leitura

Quando o amor ultrapassa espécies


Com diabetes aos 12 anos, ele estava nas ruas, abandonado. Passava fome e frio, sofria todos os riscos de quem não tem um lar. A cena já é tão banal para os moradores da cidade; ninguém parecia enxergá-lo. A expectativa era nula. Não havia o que esperar para o dia de amanhã; a sorte era terminar mais um dia vivo.

O final de Bebezão, um cachorro carinhoso e amigável, poderia ter sido triste, como acontece com muitos. Mas ele deu sorte: foi resgatado das ruas pelos anjos do abrigo Sylvia Lamego.

Conhecido por poucos, o lar teria tudo para dar errado: além não ter muitos voluntários - são apenas cinco-, o abrigo não conta com nenhum apoio financeiro fixo para sustentar os quase 200 cães e gatos que lá se encontram.

Imagem: Pixabay

No entanto, o amor aos animais é tamanho que os protetores sempre dão um jeito: vendem rifas, pedem doações em redes sociais, pechincham preços de consultas veterinárias e vacinas e, até mesmo, tiram dinheiro do próprio bolso para dar um pouco mais de dignidade bichos.

A ideia era que o Sylvia Lamego fosse um lugar temporário. Conseguir um lar melhor e com “pais” responsáveis é o que os protetores querem para os animais que resgatam. Mas não é fácil.

“Quase todos os cães e gatos que moram no lar são rejeitados pela sociedade, seja por serem ‘muito velhos’, ‘feios’ ou por apresentarem alguma deficiência”, explica a fisioterapeuta Rosemary Do Souto, uma das colaboradoras mais ativas.

Além deste problema, há o fato de haver adotantes irresponsáveis, ou seja, daqueles que acham que animais são objetos, e não seres vivos e semicientes - que tem a capacidade de sofrer, sentir prazer ou felicidade.

Assim, não foram poucos os casos os quais os animais foram adotados, por exemplo, para servirem de brinquedo para crianças tão insensíveis e mal-educadas quanto seus pais, ou serem feitos de “enfeites”.

Nestes casos, os bichos são resgatados novamente, pois a política do abrigo não é doar os animais para que passem por situações de maus-tratos mais vezes. “Eles já sofreram muito, não queremos que passem por situações de risco outra vez”, diz Rosemary.

As histórias de devolução costumam ser impressionantes, Há o caso de um cão, por exemplo, que foi devolvido por latir, simplesmente, Outro, tão espantoso quanto, foi o caso de um gato que teve que retornar para o abrigo porque subiu na cama do quarto do casal - “É por isso que não se pode adotar gatos de rua, eles são muito mal-educados”, esbravejava a mulher, tentando justificar o quão estava certa por devolver o animal.

Felizmente, não é sempre que o final é patético. Há dois meses, em abril, o rebelde e “vovô” gato Leco finalmente conseguiu um lar, junto com seu companheiro de aventuras, o Chuvinha.

Apesar deles serem um tanto “terroristas”, como definiria a protetora Rosemary, e já até terem mordido a mão da nova tutora, a pessoa que está com eles garante que não vai abandoná-los. “Eles fazem parte da nossa família agora”, assegurou a adotante, que não quis revelar seu nome para esta matéria.


Como começou….


Já aposentada, a solitária e solidária farmacêutica Sylvia Lamego adotava animais que encontrava nas ruas. Vizinhos, maldosos, a apelidaram de “maluca dos cachorros”, por causa da grande quantidade de animais que tinha em casa - eram em torno de vinte.

Mas não foram todos que a enxergavam como doida. Alguns, na verdade, até se comoviam com o bom coração da senhorinha e se propuseram a ajudá-la.

“Eu me sensibilizava muito ao ver uma senhora de quase 70 anos sozinha cuidando de tantos animais”, relembra Rosemary, que era vizinha de Dona Sylvia.

Certo dia, há oito anos atrás, a idosa veio a falecer, aos 75 anos de idade. Mas os bichos que ela cuidava não ficaram desamparados. Os poucos familiares da Senhora Lamego não fizeram questão da precária residência da falecida, então, alguns moradores do bairro decidiram continuar a com o trabalho de Sylvia.

Assim, nasceu o nome “abrigo Sylvia Lamego”, com a intenção de homenageá-la. No entanto, a manutenção do lar não foi - e nem é - fácil. “Quando a dona Sylvia era viva, ela sustentava e a gente [voluntários] colaborava com ração. Agora nós sustentamos”, explica Rosemary Do Souto.

Ainda com toda a dedicação dos poucos voluntários, o abrigo não tem condição de se manter sozinho e precisa que mais pessoas se mobilizem para que ele não feche as portas.“O local está precisando de muitas reformas, pois é uma casa muito velha”, relata a voluntária.

Apesar da situação financeira ser insustentável, a casa é como coração de mãe, sempre cabe mais um. Mesmo que não procurem e não divulguem a localização do lar, os protetores são surpreendidos quase diariamente com animais na porta.

No último mês, por exemplo, houve o caso de um cidadão que arremessou uma sacola com filhotes de gatos, que ainda mamavam, dentro do abrigo no meio da madrugada. Como caíram na parte em que havia cães, algum pequeninos acabaram mortos. Mas, os que sobreviveram foram acolhidos e, hoje, estão bem.

Mesmo com todas as dificuldades, os voluntários do abrigo Sylvia Lamego são unânimes: não pretendem desistir do trabalho e continuarão a oferecer amor, carinho, ração e tratamento veterinário aos animais.

“Quando me perguntam: “mais um gato?’, eu penso: ‘menos um gato’. Menos um gato sofrendo com o medo, com a sede, com a fome e com o frio. Queria poder fazer muito mais. Queria ter muito dinheiro; não para mim, mas para eles. Queria eu ter condições para que minha sanidade, ou minha loucura, na visão de muitos, se estendesse a todos os animais que precisam”, desabafa a protetora Rosemary.


Colabore

Quer ajudar? De dinheiro à boa vontade, o abrigo Sylvia Lamego está aceitando qualquer tipo de ajuda. Caso queira colaborar com esse nobre trabalho ou adotar um animal, entre em contato com a Rosemary através do telefone (21) 974-88-1298 ou pelo e-mail marytsouto@yahoo.com.br.

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