Auriculoterapia: uma opção para o profissional farmacêutico
- Maria K. R. Silva
- 1 de abr. de 2015
- 5 min de leitura
Apesar de ser uma antiga técnica de medicina alternativa baseada em princípios orientais, a auriculoterapia tem sido cada vez mais procurada em países ocidentais, inclusive no Brasil. E o que seria a auriculoterapia? De acordo com a doutrina, é um fragmento terapêutico da acupuntura. Trata-se de uma técnica em que se aplicam agulhas no pavilhão auricular para tratar de desordens gerais, que variam, por exemplo, de cólicas até transtornos obsessivos compulsivos (TOC). "O sistema de medicina ocidental se baseia em diagnósticos hipotéticos, tratamentos incertos e caros", afirma o Professor Cláudio Pignone, "As pessoas procuram por um atendimento que gere resultados rapidamente". Entretanto, aquele que é habilitado à prática de auriculoterapia e que possui conhecimento sobre as interações medicamentosas se torna um profissional mais completo e, por consequência, desejado. Eis, então, uma opção de atuação para o farmacêutico - a acupuntura auricular.
Cláudio Pignone, formado em Fisioterapia, Farmácia e estudante de Direito, atua com acupuntura há mais de 15 anos. Atualmente, é professor titular e supervisor de ambulatórios nos cursos de Pós-Graduação em Acupuntura da ABACO, além de ser coordenador da Câmara Técnica de Acupuntura do Conselho Regional de Farmácia – RJ e o professor da primeira turma do curso de Auriculoterapia para Farmacêuticos do QualiPharma. Conversando com ele, esclarecemos algumas dúvidas sobre como a auriculoterapia pode ser importante para o farmacêutico e para o paciente.

RioPharma: Qual o maior benefício do profissional farmacêutico ao conhecer a auriculoterapia?
Cláudio: O farmacêutico não tem um contato muito direto com o paciente e sua patologia, costumando ficar nos bastidores, com as análises clínicas, toxicológicas ou nas farmácias, drogarias. Então, no meu ponto de vista, o único momento em que o farmacêutico pode lidar diretamente com o paciente é quando atua como acupunturista. Isso traz prazer, bem-estar. E, com o conhecimento farmacêutico, também pode orientar o paciente.
RioPharma: Em questões financeiras, quais são as vantagens de se trabalhar com auriculoterapia?
Cláudio: O custo com material é bem barato. Além disso, tempo terapêutico é curto, os resultados são rápidos, há uma grande rotatividade de pacientes e uma grande procura. Isso
gera um bom lucro.
RioPharma: Por que a procura por essa técnica é grande?
Cláudio: As pessoas estão observando a falência do sistema ocidental. O sistema ocidental é baseado em diagnóstico hipotético, logo, o tratamento é incerto e os medicamentos são caros. Então, quando o paciente encontra uma alternativa que gere resultados desde a primeira sessão, como ocorre com a auricupuntura, fica satisfeito e o indica para outras pessoas.
RioPharma: Quais são as desordens patológicas mais buscadas para se tratar com a técnica?
Cláudio: As mais procuradas são enxaquecas, dores musculo-esqueléticas, provocadas por tendinites, bursites, gonartroses, contraturas musculares. Atualmente, temos um grande número de pacientes com desordens psiquiátricas e neurológicas, com paralisia facial, pacientes que sofreram AVE e ficaram com sequelas, pacientes com transtorno do pânico, da ansiedade, com TOC. Lidamos, também, com um grande número de mulheres com dismenorreia, cólicas menstruais e TPM. O leque de atendimento é bem amplo. Em muitas situações, a auriculoterapia por si só atenua e até mesmo resolve, em outras, é coadjuvante a outras técnicas terapêuticas.
RioPharma: O senhor concorda que a auriculoterapia, assim como a homeopatia, trata o paciente como um todo, e não apenas seus sintomas?
Cláudio: Isso é válido, estendo para a auriculoterapia. É claro que a acupuntura, frequentemente, entra como coadjuvante. Imaginemos um paciente com uma neoplasia, um câncer. Ele está em tratamento quimioterápico, geralmente medicamentoso que, muitas vezes, gera inúmeras reações adversas. Se esse paciente procura a auriculoterapia, pode passar muito bem todo o seu tratamento quimioterápico, sem nenhuma reação adversa. No caso de outros pacientes, a auriculoterapia e a acupuntura são técnicas de primeira escolha, pois por si só são capazes de resolver o problema.
RioPharma: E, em média, quanto tempo costuma demorar o tratamento com auriculoterapia?
Cláudio: Isso varia de paciente para paciente, dependendo da situação clínica. Todavia, costuma ser bem rápido. A permanência em período terapêutico não é longa. Costuma ser, inclusive, mais rápida do que em outras condutas ocidentais. Por exemplo, o paciente que procura a fisioterapia para uma síndrome músculo-esquelética, uma tendinite qualquer, não fará menos de 20 atendimentos. O que nos procura com acupuntura auricular, reduzimos a quinta parte do tempo. Uma redução considerável. Outro exemplo é um paciente com transtorno do pânico, que faz um tratamento medicamentoso de aproximadamente 24 meses, quando em concomitância com a acupuntura auricular, reduzimos isso à terça parte.
RioPharma: Há algo que o paciente faça que pode atrasar o tratamento?
Cláudio: Sim. Inclusive, há alguns medicamentos que podem diminuir a resposta da auricupuntura, como, por exemplo, alguns corticoides e psicotrópicos. Muitas vezes, nós também orientamos o paciente com algumas mudanças de hábito de vida, como dormir mais, beber menos álcool, beber mais água, ter mais momentos de lazer e de momentos lúdicos. Se o paciente for realmente colaborativo, os resultados chegarão bem próximos à totalidade.
RioPharma: O fato da ariculoterapia acelerar e, até mesmo, resolver certas patologias sem o auxílio de medicamentos prejudicaria a Farmácia?
Cláudio: Não vejo isso. Algumas pessoas tentam insistir nesse tópico, mas não vejo o porquê. A acupuntura vem avançando no ocidente. Se eu fosse acreditar nessa teoria, as estatísticas estariam totalmente erradas, porque tanto a acupuntura quanto os psicotrópicos estão crescendo em consumo. Outro fato é que a acupuntura está crescendo em procura e os anti-inflamatórios não decrescem em seus índices de venda.
RioPharma: Então, os remédios podem atuar em equilíbrio com a auriculoterapia?
Cláudio: Sim, em muitas situações. Existem síndromes graves e complexas que necessitam ser tratadas com medicamentos, então, em momento algum, é incentivado que o paciente descontinue o tratamento medicamentoso. Pelo contrário. Eis mais uma vantagem do farmacêutico: ele é o profissional do medicamento, quem mais conhece a farmacodinâmica, e sabe muito bem o que o paciente está usando, quais são as reações e os efeitos que uma droga produz. E, sendo auriculopuntor, ele será capaz de atenuar tais reações e efeitos. Esse será, certamente, o profissional que jamais incentivará o paciente a descontinuar o tratamento medicamentoso quando necessário.
RioPharma: Em quais lugares o farmacêutico auriculupuntor pode atuar?
Cláudio: As resoluções existentes não ditam nada a respeito disso. Como a auriculoterapia é um curso livre por ser uma extensão da especialização da pós-graduação em acupuntura, o farmacêutico pode atuar em domicílio ou em consultório. Se quiser atuar em uma farmácia, dependeria do dono da farmácia, pois não há nada que impossibilite a prática.
RioPharma: E o que seria preciso para que o farmacêutico pudesse abrir seu próprio consultório?
Cláudio: Para abrir um consultório como autônomo, há a necessidade da formação prévia em acupuntura. Então, o farmacêutico deve obter o título de especialista em acupuntura e registrar o título no CRF-RJ. Com essa titulação, ele acaba tendo possibilidade de ser um profissional liberal, de abrir seu consultório como farmacêutico acupunturista. Tendo a formação em acupuntura auricular, ele pode somar a acupuntura sistêmica em consultório. Se o farmacêutico não for especializado em acupuntura, ele pode atuar em qualquer lugar, mas não em consultório ou em âmbito ambulatorial.
RioPharma:E sobre sua trajetória, o que o senhor poderia nos contar?
Cláudio: Após alguns testes vocacionais, optei, inicialmente, para fisioterapia, porque queria atuar com reabilitação. Durante a faculdade de Fisioterapia, fui percebendo que havia lacunas produzidas por minha aversão à química. Sempre tive dificuldades com química, talvez porque nunca tenha tido professores que me estimulassem a me dedicar mais. Ao concluir o curso, me especializei em CTI, Fisioterapia Neurológica e Acupuntura. Após trabalhar 15 anos como acupunturista, decidi estudar Farmácia para vencer minha aversão à química. Logo que me formei em farmácia, em 2009, passei em uma seleção na Fiocruz para Tecnologia Industrial Farmacêutica e, durante os dois anos de pós-graduação, gostei muito de assuntos regulatórios da indústria farmacêutica. Eram só resoluções, procedimentos operacionais... E eu gostava de lê-los. Isso me estimulou a estudá-las, pois havia muita coisa que eu não concordava, achava injusto, fora da norma. E precisava de alguma coisa para entender isso melhor. Daí, decidi ingressar para o Direito, no final de 2012.
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